segunda-feira, 4 de abril de 2016

Herbologia

TERAPÊUTICA
As virtudes curativas do reino vegetal foram celebradas desde os tempos mais remotos; neles já se destacava uma geral intuição sobre o particular. O próprio nome helênico do deus da Medicina — Esculápio — significava o bosque, a esperança da saúde ou, segundo Porfírio, a faculdade solar de regenerar os corpos ou, para nos expressarmos melhor, aquela faculdade que repara as soluções de continuidade nos tecidos humanos.

As plantas podem ser empregadas em medicina dentro de seus três estados: vivas, mortas ou ressuscitadas.
A planta viva serve de modificadora do centro ou corpo interior, principalmente quando é aromática. Seu perfume tonifica todas as inflamações das mucosas respiratórias. Desta forma, os tísicos acalmarão seu mal-estar, respirando o aroma dos pinhos, da alfazema, do alecrim, da menta, etc.
Este é o emprego exotérico das plantas vivas; seu emprego esotérico é indicado por Paracelso sob o nome de transplantação das doenças.
As doenças podem ser contagiadas ou transportadas da pessoa que as padece para qualquer outro ser vivente.
Embora recomendada pelos grandes mestres do Ocultismo, esta prática é perniciosa para o plano espiritual do homem e do vegetal; algum dia me alongarei em maiores explicações sobre este assunto; por ora contentar-me-ei com passar o modus operandi sob o mais absoluto silêncio.
Para as feridas e úlceras, empregam-se Polygonum persicaria, Symphytum officinalis, Botanus europeus, etc.
Para dor de dentes, esfregam-se as gengivas, até que sangrem, com raiz de Senecio vulgaris.
Para a menorréia uterina, Polygenum persicaria.
Para a menorréia difícil, Menta polegium.
Para a tísica pulmonar, o roble e a cerejeira.
Chegou-se hoje em dia a experimentar a ação à distância, sobre indivíduos hipnóticos, de determinadas substâncias medicinais. Haja vista os trabalhos dos doutores Bourru, Burot, Luys e dos magnetizadores da primeira metade do século XIX sobre este particular.
E cumpre insistir que não apresentamos aqui senão exemplos isolados, que o leitor estudioso poderá ir multiplicando a seu bel-prazer segundo as leis dos signos.
A planta colhida pode ser utilizada exotericamente: em sumo, em pó e em infusão.
Em decocção (fervida em água); tem resultados mais ativos do que em infusão.
Em magistério, ou seja pela fórmula e preparação secretas.
Em tintura (combinada com álcool). Em quintessência.
Eis aí, portanto, as indicações práticas sobre esta farmacopéia exterior, extraída dos livros de Paracelso; qualquer pessoa poderá fazer com elas variadas experiências e manipulações diversas.
E tenha-se sempre em mente que um medicamento vegetal é sempre tanto mais ativo, se a sua preparação é realizada por uma pessoa robusta e animada do desejo de curar.
TINTURAS, DECOCÇÕES, PÓS, ETC. - Para apresentação e desenvolvimento de nosso exemplo, lançaremos mão de três medicamentos vegetais: o heléboro, o breu e a cicuta.
De Paracelso transcrevemos o seguinte:
"O povo tem acreditado erroneamente que a planta chamada heléboro se julgará boa unicamente para a cura da loucura, já que é também utilíssima para curar e prevenir numerosas doenças, inclusive para conservar e prolongar a vida. Sua eficácia e virtude, observadas atentamente, se tornam notáveis para renovar a natureza do corpo, purificar o sangue e purgá-lo de todo tipo de excessos. Na antiguidade o heléboro era aplicado com êxito, fazendo-se com ele práticas muito bem sucedidas, que hoje caíram em desuso para prejuízo da humanidade, razão porque valeria a pena que o heléboro recuperasse sua primitiva prestância.
"Em primeiro lugar, convém escolher o heléboro negro de Teofrasto, que é o mais raro e o mais radical entre todas as suas espécies, segundo opinião de todos os que, durante longos anos, praticaram o sacerdócio da medicina. Os efeitos daquele são mais doces e favoráveis do que os de outros conhecidos, como o heléboro de Dioscórides, o heléboro branco, a heleborina ou falso heléboro, os quais proporcionaram resultados imprecisos em diversos ensaios.
"Pode-se colher a raiz do heléboro negro, cortá-la e fazer com ela uma pasta que será posta ao ar durante a noite; na manhã seguinte será cozida lentamente; depois de tirada do fogo, será transformada em pó. O peso deverá ser de meio escudo; será tomada horas antes das refeições, três ou quatro vezes ao ano, principalmente na primavera e outono.
"Isto representa uma manifesta precaução para evacuação das imundícies do corpo, das quais se originam as mais graves indisposições; e pode-se aumentar a dose, se se quiser.
"Pode-se, também, cozinhar as folhas e a raiz do helé-boro com pão de centeio e, transformado em pó, tomá-lo como corretivo; a dose deve ser de trinta a quarenta gramas, podendo contudo ser mais para pessoas robustas, tanto em pílulas, em obreia ou tabletes, em pasta cozida ou por meio de outra manipulação antes da refeição do meio-dia.
'Toda a planta pode ser tomada também em pó; com a medida de peso anteriormente indicada, sem nenhum tipo de preparação, como era costume em Roma.
"Dita raiz pode ser condimentada com carne, no cozido; desfeita em sopa ou tomada diluída num líquido qualquer; é maneira de depurar-se bem e suavemente. Pode-se acrescentar a quantia que se quiser de algum ingrediente que resulte em agradável sabor.
"Os hunos, para purificar seu sangue, acostumaram-se aos poucos e insensivelmente ao uso das folhas do heléboro negro, colhida em perfeita maturação, e não ignoravam que, misturada com
açúcar, a água de heléboro constituía um grande elixir para prolongar a vida e prevenir todo tipo de doenças, tanto externas como internas, até que lhes chegasse a hora da morte.
"No começo, a dose deve ser de 10 a 15 gramas, aumentando gradativamente até chegar a 30: então, durante algum tempo se tomarão os 30 gramas, para passar a um regime mais prolongado durante o qual se tomará uma dracma (uns três miligramas e meio), de seis em seis dias; desta maneira o heléboro se familiariza com o estômago e, ao perder sua grande força purgativa, se transforma somente num magnífico reconstituinte.
"Por meio da indústria se reduz a bálsamo e a dose desta virtude balsâmica é de 10 gramas.
"Tira-se dela uma excelentíssima quintessência, superior a todos os preparados anteriores de heléboro que se ministram para rejuvenescer o corpo; a porção, neste caso, deve ser de cinco a seis gotas diluídas em algum licor apropriado, por exemplo, em água de melissa ou agrimônia.
"Depois de bem lavada e borrifada com vinagre, de toda a planta se destila uma espécie de xarope para purgar o humor negro e terrestre ou seja, melhor dito, para separar da natureza o puro do impuro, o saudável do nocivo e para arrancar toda classe de males que daquele provêm. Dito xarope atua com mais segurança e mais eficazmente do que qualquer outro purgante; é preferível ao extrato, embora ambos não tenham outro objetivo senão a ação de purgar; este último não é bastante poderoso para purificar todo sangue e conservar logo a saúde dentro duma estabilidade firme.
"Ao uso frequente desta planta, mui particularmente de sua raiz, devem-se a maravilhosa ação contra as mais terríveis doenças e a faculdade extraordinária de renovação do corpo e purificação do sangue; como também a excelente purgação, salvação da saúde; e é por isso que poderíamos qualificar este remédio como uma segunda medicina universal, sempre que se tenham em conta as condições aqui expostas superficialmente."
ÁGUA DE BREU. - Também de Paracelso: "Dissolva-se uma parte de breu em quatro partes de água fria, agitando-se com uma colher de madeira, pelo espaço de uns dez minutos. Conserve-se dita mistura bem fechada durante vinte e quatro horas, a fim de que o breu tenha tempo para precipitar-se. Colocar-se-á imediatamente a parte líquida numa garrafa, abandonando-se o resto, que para o caso não tem nenhuma utilidade.
"Deve-se ter presente que a água de breu, para ser perfeita, terá que assumir uma cor de vinho claro como os chamados vinhos brancos da Espanha ou da França."
A ÁGUA DE BREU PARA USO EXTERNO - "Derramem-se dois quartilhos (1) de água fervendo sobre um quartilho de breu; mexa-se tudo com um pau ou uma colher de madeira durante quinze minutos; deixe-se em repouso durante dez horas e em seguida poderá ser usada, procurando mantê-la bem vedada.
1 — um quartilho equivale a meio litro.
"A água de breu pode ser mais ou menos forte segundo as necessidades ou a gosto do consumidor."
Emprega-se em loção contra o mal de pedra, a sarna, as úlceras, as escrófulas, a lepra; e tomada como bebida ou uso interno contra as seguintes doenças: varíola, erupção sanguínea, ulceração de intestino, inflamação, gangrena, escorbuto, erisipela, asma, indigestão, mal de pedra, hidropisia e histerismo.
O melhor breu é tirado do Pitchpin, espécie de abeto ou pinho do Norte, que necessita de um terreno especialmente seco e muito elevado.
PREPARAÇÃO DO EXTRATO DE CICUTA. -Tomam-se alguns caules e filhas de cicuta tenra. Espreme-se o suco; põe-se a evaporar em fogo lento, numa panela de barro cozido, mexendo-se de vez em quando. Dita decocção durará até que o extrato se torne completamente espesso; acrescente-se em seguida uma quantidade proporcional de pó de cicuta para poder formar com ela uma pasta consistente, com a qual se confeccionarão pequenas pílulas.
Se, ao invés de utilizar a cicuta tenra, se fizer a decocção com a mesma planta, porém seca, é bem certo que a preparação não chegará a ter igual virtude.
A medicação deverá ser iniciada com doses muito pequenas, que aos poucos poderão ir aumentando de proporção; depois de cada dose que se tome, procure-se ingerir algum líquido quente, como caldo ou então alguma infusão de flores cordiais.
As folhas de cicuta, secas e cortadas, podem ser usadas também para uso exterior; colocam-se em um saquinho de pano e, depois de deixá-lo alguns minutos dentro duma caçarola com água
fervendo, faz-se aplicação em compressas na parte afetada.
Todas estas preparações constituem perfeitos calmantes, para as quais se usará a planta chamada cicuta offici-narum, cicuta vera ou conium macultatum, seu conium steminibus sriatis.
Teofrasto garante que a melhor cicuta cresce na sombra e nos terrenos frios; é o que se dá com a de Viena (Áustria), enquanto a dos arredores de Soissons é muito mais ativa do que a de Paris e a da Itália.
Hipócrates, Galeno, Avicena e uma infinidade de outros médicos, também pertencentes à antiguidade, à Idade Média ou à Renascença, empregavam a cicuta como medicamento de uso interno para resolver tumores, para cólicas de toda espécie e para acalmar os ardores da matriz.
Também nossos avós se serviam muito, para estes casos e como tônico em geral, de uma quintessência de celidônia, de melissa, de valeriana, de betônia, de açafrão e de aloés.
FISIOLOGIA VEGETAL
ANATOMIA — Nada mais simples do que a estrutura da planta. As partes anatômicas se reduzem a três e são elas, precisamente, as que, individualizando-se, formam todos os órgãos.
I.o — A massa geral da planta é formada pelo tecido celular, que pode ser classificado como órgão digestivo da mesma. (Raiz: individualização dos tecidos celulares; intestino da planta: semente; Embrião.)
2.° — Os intervalos entre as células ordinariamente hexagonais formam os canais que se estendem por toda a planta e conduzem a seiva com a qual a mesma se nutre. Estes canais ou condutos intercelulares são, portanto, para as plantas o que os vasos sanguíneos e as veias são para os animais. (Caule: individualização das veias; sistema sanguíneo da planta; invólucro: órgão fêmea.)
3.o — No tecido celular da maioria das plantas, existem outros canais que são formados por uma fibra contornada em espiral que conduz o ar por toda a planta. Estes canais, ou vasos em espiral, são para a planta o que as traquéias são para os animais. E é assim que são chamados: traquéias das plantas. (Folhas: individualização das traquéias, pulmões da planta).
Deste primeiro bosquejo, passemos agora ao das relações que existem no funcionamento entre os citados órgãos.
O desenvolvimento embrionário da planta compreende as seguintes fases.
1.° — Localização da semente numa matriz propícia: terra úmida.
2.° — As três partes do germe começam a vegetar, alimentando-se dos cotilédones.
3.0 — A raiz começa a absorver as substâncias nutritivas da terra. A planta se individualiza em suas funções respiratórias e digestivas. Em resumo: nasceu.
Vejamos como o Dr. Encause resume a fisiologia vegetal:
1.° —Submergindo na Terra, a raiz: estômago da planta; vai à procura da matéria alimentícia.
2.° — As Folhas, buscando vida no Ar livre ou dentro da Agua: pulmões da planta.
Buscam também a luz e os gases necessários à renovação da força que deve proporcionar virtudes à matéria interior dos tecidos.
Dita força se desenvolve por meio da clorofila (sangue verde), canais de interposição.
3.° — O Caule: aparelho circulatório, cujos vasos contêm: I.o — A seiva ascendente parecida com o quilo (substância branca, o mais sutil dos alimentos). 2.o — O ar absorvido pelas folhas. 3.o — O resultado da ação do ar sobre a seiva nutritiva ou seja a seiva ascendente.
4.o — As Flores: resultado da força supérflua; lugar dos aparelhos de reprodução.
Agora vamos estudar estas funções mais pormenorizadamente; do seu conhecimento depende, efetivamente, toda a arte da farmacopéia hermética, como se poderá avaliar na segunda parte do nosso estudo.
O grão ou semente se compõe das seguintes partes:
1.o —O germe, que por sua vez é formado por: a pequena raiz (futuros órgãos abdominais); o broto ou ver-gôntea (futuros órgãos respiratórios); o pequeno caule (futuros órgãos circulatórios, centro geral de evolução). Tudo isto análogo aos três desenvolvimentos do embrião humano.
2.° - Os cotilédones: materiais destinados à nutrição do germe. (Órgãos análogos à placenta.)
Contendo em si a árvore em todo o seu poder de crescimento, cada grão encerra um Misterium Magnum; por conseguinte, no desenvolvimento do grão ou semente encontraremos a imagem invertida da criação do mundo.
A árvore começa a manifestar-se desde o momento em que o grão foi submergido em sua matriz natural, a terra.
Contudo, por si só a terra não é mais do que uma matriz passiva; portanto, não pode desenvolver a fagulha vital ou iluminar o Ens da semente a fim de que os três princípios 5a/, Enxofre e Mercúrio se manifestem nela.
A luz e o calor do sol são necessários para que isto aconteça; somente por meio deles se animará o fogo frio subterrâneo. Então o grão, levado pela força deste desenvolvimento, passa por sua ulterior evolução.
No capítulo seguinte, ao falar do cultivo, examinaremos o que acontece quando a matriz não corresponde ao grão que lhe é confiado.
CRESCIMENTO DO GRÃO. - Portanto, já estamos compreendendo três Ens, três dinamismos em reação mútua, abrangendo cada um sua trindade de princípios — Sal, Enxofre e Mercúrio: o Ens da
terra, o Ens do grão e o Ens do sol. O primeiro e o último Ens exigem, por efeito de uma tração magnética, o desenvolvimento do germe nos sentidos opostos; donde resultam a raiz e o caule que, conforme é sabido, exercerão na vida da planta funções de analogia contrária.
Da harmonia resultante destes três Ens, depende o perfeito estado do caule (liso, esverdeado, ou nodoso e negro) e das raízes (múltiplas e robustas ou secas e delgadas).
CRESCIMENTO DA RAIZ. - Do ponto de vista dos três princípios, é sabido que a vida e a sensibilidade (magnética) residem no Mercúrio. O Mercúrio subterrâneo dos minerais, quase sempre venenoso e carregado de impurezas, encontra-se literalmente no inferno, quer dizer: para a sua própria atividade não encontra outro alimento nem outro objeto do que a si mesmo.
Por conseguinte, é só uma vibração solar chegar a ele, que a torna sua, absorve-a totalmente dentro do seu corpo o sal e o enxofre, ambos intimamente unidos à sua essência.
Então a terra se abre; seus átomos obtêm uma liberdade relativa e o corpo plástico, o Sal, que permanecia num entorpecimento saturnino, torna-se suscetível de atração e vê-se, efetivamente, atraído pelos Ens do germe, em seus elementos homogêneos.
CRESCIMENTO DO CAULE. - Em geral, em sua parte mais baixa, o caule é branco; até a metade é escuro e na sua parte mais alta é verde.
O branco indica a tendência no sentido da expansão subitamente libertada das potências construtivas da raiz; a cor escura significa uma expressão saturnina, resultado da maldição divina; o córtice é a parte do vegetal que se acha no limbo.
Porque, se o Grande Mistério está representado também nas árvores, o reino vegetal foi alcançado, como toda a Criação, pelo pecado de Adão; mas, na beleza das flores e na doce maturação dos frutos, descobrem-se, ainda mais do que em outras criaturas, os esplendores do Paraíso.
Finalmente, a cor verde representa o sinal da vida mer-curial, que serpenteia no Júpiter e na Vênus das ramagens.
A ÁRVORE. — Sem dúvida alguma, a árvore constitui o tipo mais perfeito de todos os seres vegetais; nela encontramos as influências das estrelas, dos elementos, do Spiritus Mundi e o Misterium Magnum, que é por si mesmo Fogo e Luz, Ódio e Amor, como verbo pronunciado pelo Pai Eterno.
PRODUÇÃO DOS NÓS. - O arbusto cresce devido à emulação mútua dos dois Ens, do sol exterior e do sol interior, que cumpre com sua missão até o fim natural, que consiste na produção de um Iíquido doce que proporciona a flor, os elementos de sua forma elegante e de suas belas cores.
É sabido que as sete formas da Natureza exterior exercem na planta sua influência na seguinte ordem: Júpiter, Vênus e a Lua cooperam de um modo natural na ação expansiva de seu sol interior; Marte, porém, exagera dita expansão, de vez que este não é outra coisa senão o espírito ígneo do Enxofre, a vida mercurial se junta diante dele e Saturno chega à congelação e à corporificação deste turbilhão; é assim que se produzem os nós.
PRODUÇÃO DOS GALHOS. - Os galhos são o resultado da batalha travada pelas forças naturais em pleno movimento, quando desejavam conservar a comunicação com o sol exterior. São, por assim dizer, as gesticulações da planta que se sente oprimida e que quer viver em liberdade e por sua vontade própria. Do mesmo modo que no homem a força vital faz sair os venenos interiores sob a forma de furúnculos, assim o calor vital da árvore obriga-a a produzir brotos e ramificações, principalmente quando o chamamento do Ens exterior é o mais poderoso, como acontece na primavera.
Em outros termos, o desejo da vida mercurial ou o Sal, encerrado em Saturno, luta desesperadamente, aquece-se e converte-se em Enxofre; este Enxofre dá um novo impulso a seu filho, o Mercúrio; este mostra tendência a expandir-se; e Vênus fornece a substância plástica dos brotos e dos galhos.
A FLOR. — O Sol domina aos poucos os excessos de Marte; a planta vai diminuindo de amargor; Júpiter e Vênus esgotam sua atividade e fundem-se na matriz da Lua; os dois Ens se unem, de modo que o Sol interior, a força vital da planta, recobra seu estado primitivo, passa ao estado de Enxofre e reintegra o regime da liberdade divina.
O PARAÍSO DA PLANTA. - Neste mesmo regime, as sete formas se entrecruzam interiormente e para cima e entram em jogo em perfeita harmonia. A imagem da Eternidade se forma no tempo; o Enxofre da planta passa novamente para o estado latente e o Sal se transmuta; o reino do Filho se inaugura com uma alegria paradisíaca, que se desprende com o perfume; do mesmo modo que do corpo dos santos se desprende um odor peculiar; é o que Paracelso chama de Tintura.
O GRÃO. — Mas, por causa do pecado de Adão, este paraíso cessa muito de repente e entra de novo na obscuridade do grão ou semente, onde os dois sóis vêm ocultar-se.
O FRUTO. — Constitui o espírito escondido dos elementos que atuam durante a frutificação.
Os frutos possuem uma qualidade boa e outra má, que herdaram de Lúcifer. Não se encontram, portanto, inteiramente sob o regime da Cólera, porque o Verbo único, que é em tudo e por tudo imortal e imarcescível até dentro da putrefação subterrânea da semente, reverdesce neles; é que o Verbo opõe resistência à terra e a terra não acolheu o Verbo.
Devido a este processo, podemos admitir o triunfo do regime do Amor na Planta, ou seja, chegamos à sua floração.
O Ens, tão logo se haja manifestado, corre para o seu lugar, agrega em si imediatamente uma grande quantidade de elementos plásticos; ou melhor, Luas que ao calor do Sol externo transforma em Vênus; desta maneira a polpa ou carne do fruto se desenvolve ao redor de um centro, que é filho do Sol interno.
Os sete planetas encontram-se novamente no fruto e são eles que determinam seu sabor e aroma, esperando que Saturno venha fazê-lo cair sobre a terra donde se ergueu um dia.
MADUREZ. — A qualificação de maduros dada aos frutos a fim de significar um ponto álgido de perfeição, um período em que seu sumo se torna açucarado, não está bem expressada com este nome, que indica o contrário, seu estado de agonia.
A madurez é o resultado de uma espécie de vertigem que o Sol causa ao princípio paternal do Enxofre e que o precipita da vida eterna para a vida temporal. De tudo isto poderemos, agora, deduzir as indicações necessárias para efetuar o correspondente estudo sobre o sentido dos diversos sabores que os frutos possuem.
RESUMO. — Apresentamos este rápido bosquejo, servindo-nos intencionalmente de todas as nomenclaturas. Agora o continuaremos, preenchendo algumas poucas linhas dedicadas ao mesmo, empregando, porém, para elas a teoria budista naturalista ou jônica, conforme a seguir:
O mundo pode ser considerado criado como resultado das interações de três forças distintas: a expansão, a luz ou doçura (o Abel de Moisés); a contração, obscuridade ou aspereza (Caim) e a rotação, angústia ou amargura (Set). Estas três forças encontrá-las-emos no reino vegetal.
Consideremos o germe introduzido na terra. A doçura foge da obscuridade e da angústia que a perseguem; daí é que provém o crescimento da planta.
Com o calor do sol, a luta das três forças se torna mais encarniçada; a contração e a rotação se exaltam duplamente, provocando a expansão; daí a origem do córtice, dos nós raros e rugosos das árvores e plantas.
Mas a expansão, tão logo os seus adversários cessam de atacar, não a deixam um momento livre, estende-se com avidez por todas as partes. Então quando saem os galhos, se inicia a cor verde dos brotos e a planta se abandona às forças vivificantes do sol, que a levam até o capulho e a flor, que é a sua perfeição.
Dos diversos órgãos a contração faz um todo homogêneo e a angústia as divide em partes, as quais cooperam conjuntamente já que, oriundas de baixo, vêem-se obrigadas a obedecer à força solar que chega até elas vinda de cima; desta maneira se forma o fruto que vai desenvolvendo-se até que a energia expansiva se esbanjou totalmente; momento em que o fruto está disposto a cair para dar expansão e nascimento a um novo circulus vital.
O OD DA PLANTA. - Desde o descobrimento de Rei-chenbach, tem-se como certo que na Natureza toda coisa desprende uma espécie de exalação invisível nas condições ordinárias, mas visível para os sensitivos. Esta radiação varia em cor, intensidade e qualidade.
A parte extrema superior das plantas é sempre positiva e a parte baixa ou inferior, negativa, seja qual for o fragmento da planta apresentando o exame do sensitivo.
Os frutos são positivos e os tubérculos, negativos.
O lado da flor, de qualquer fruto, é positivo; o lado do pedúnculo é negativo.
Estas observações foram utilizadas até à atualidade pelos sucessores do conde Mattei para as práticas da Eletro-Homeopatia, porém eu, particularmente, não posso chegar a crer que essa polarização seja de uma grande profundidade.
A ALMA DA PLANTA.— Fomos buscar num livro, por certo muito notável, original de E. Boscowitz, os testemunhos de alguns sábios que atribuem à planta uma vida e uma sensibilidade parecidas às das pessoas. Sem aludir às doutrinas bramânicas, budistas, taoístas, egípcias, platônicas ou pitago-rianas — todas elas mais ou menos profundamente penetradas do espírito dos vegetais — teremos que lembrar que filósofos como Demócrito, Anaxágoras e Empédocles sustentaram dita tese. Em época mais recente, Percival quer demonstrar que os movimentos das raízes são voluntários; Vrolik, Hedmig, Bonnet, Ludwig e F. Ed. Smith afirmam que a planta é suscetível da
sensações diversas até o ponto de garantir que é capaz de conhecer a felicidade; Erasmo Darmin, em sua obra Jardim Botânico, diz que a planta tem alma; todas as obras de Von Martius procuram demonstrar o mesmo e, finalmente, Teodoro Fechner escreveu um livro intitulado Nanna oder Ueber das Seelenleber der Pflanzen, na qual se prova ou se quer provar tudo o que foi dito acima.
Eis aqui os caracteres de analogia que as plantas apresentam com relação aos seres dotados de personalidade:
Nelas a respiração se efetua por meio das traquéias de Malpighi, formadas de uma cinta celular enrolada em espiral e dotadas de contração e de expansão.
O ar é indispensável para a sua vida (segundo as experiências de Calandrini, Duhamel e Papin) e exerce sobre a seiva uma ação análoga àquela exercida sobre nosso sangue (Bertholon).
O lado inferior das folhas está cheio de pequenas bocas estomáticas, órgãos de dita respiração. (Experiências de Ingenhous, de Hales, de Teodoro De Saussure, de Mohl e Garreau.)
Recebem o oxigênio do ar e dele se apropriam e exalam, em contrapartida, o ácido carbônico (Garreau e Hugo von Mohl, Sachs).
Nutrem-se do carbono, que extraem do ácido carbônico e durante o dia exalam, por conseguinte, uma grande quantidade de oxigênio.
Suas raízes servem-lhes de estômago bem como as folhas; a seiva é análoga ao quilo.
A nutrição das plantas é uma função tão ativa, que Bradley calculou que uma azinheira, ao fim de cem anos, absorve 280 000 kg de alimentos.
Se a circulação da seiva não é ainda um fato provado de maneira categórica, ao menos se sabe que as plantas têm a qualidade da transpiração, a qual se exerce com força extraordinária.
Ademais, como é que explicamos os movimentos das plantas em busca da luz, do sol, dos elementos de nutrição, de um terreno propício à sua vida, que a cada passo observamos?
Como explicamos sua potência amorosa, o calor, a eletricidade que desprendem no instante de sua fecundação?
Donde vêm, finalmente, as propriedades maravilhosas da flor de ressurreição e da Roda de Jericó?
O iniciado tem podido comprovar todos estes fenômenos e admirar uma vez mais a sabedoria de seus prodeces-sores bem como a penetrante intuição do povo que deu a cada árvore sua Hamadríada, a cada flor sua fada, e cada erva seu gênio. As observações científicas, das quais acabamos de fazer um ligeiro resumo, não nos ensinam, magnificamente e com toda clareza, os movimentos sombrios da alma dos elementos que se esforçam rumo à consciência?
PLANTAS E ANIMAIS. - Bonnet, de Genebra, homem de muito talento, consagra a décima parte da totalidade de suas obras à comparação paralelística das plantas e dos animais. Ele expressa da maneira seguinte o resultado de suas numerosas experiências comparativas:
"A Natureza desce gradativamente do homem ao polvo, do polvo à sensitiva, da sensitita à túbera. As espécies superiores sempre apresentam alguma coisa do caráter das espécies inferiores e estas, algo também das espécies inferiores. A matéria organizada recebeu um número quase infinito de modificações diversas e todas estão intimamente ligadas em graduação como as cores do prisma. Marcamos pontos sobre as imagens, traçamos logo as linhas e a esta tarefa damos o nome de classificar e assinalar gêneros. Desta maneira não nos apercebemos mais do que dos tons dominantes, mas os matizes mais delicados escapam à nossa observação."
"As plantas e os animais não são, portanto, outra coisa senão modificações da matéria organizada. Todos participam de uma mesma essência e o atributo distintivo nos é desconhecido."
A planta vegeta, nutre-se, cresce e multiplica-se; mas os grãos vegetais são muito mais numerosos do que os ovos ou os óvulos fecundados nos animais, exceto das espécies inferiores.
Pela mesma razão, um indivíduo produz muito mais renovos no primeiro reino do que embriões no segundo.
Em uns o alimento é absorvido pelas superfícies porosas; noutros, por uma única boca; a absorção pelas raízes inferiores é incessante; nos animais desenvolvidos se produz por intervalos e por raízes inferiores (vasos quilíferos).
Em sua maioria as plantas são hermafroditas.
Finalmente, as plantas são imóveis, com exceção do movimento das folhas e de algumas flores em direção ao sol; os animais são móveis.
CONCLUSÃO GERAL. - Deste rápido estudo se deduz que o movimento geral da vida terrestre, no que se refere aos três citados reinos inferiores, aparece como o esforço gigantesco de um Poder organizado (a Natureza física) no sentido do livre arbítrio, passando da imobilidade característica do reino mineral, pela individualização (vegetais), até o movimento espontâneo (animais).
É o que expressam de maneira clara os quatro esquemas seguintes, os quais permitem considerar cada reino como um meio em que os átomos se acham numa fase particular do movimento: primeiramente, em estado de repouso ou passivo, depois em estado de equilíbrio, mais tarde em estado de turbilhão e, finalmente, em estado de resolução.
Os quinto, sexto e sétimo estados representam os reinos (para nós espirituais) superiores à evolução atual do gênero humano.
MINERAIS (Terra)
VEGETAIS (Água)
ANIMAIS (Ar)
HOMENS (Fogo)
FISIOGNOSIA VEGETAL
Cada planta é uma estrela terrestre. Suas propriedades celestes se acham inscritas nas cores das pétalas e suas propriedades terrestres, na forma das folhas; toda a Magia se encerra nelas, já que em seu conjunto as plantas representam as potências dos astros.
Existem três chaves distintas que podem ser empregadas para conhecer, por meio de suas propriedades exteriores, as virtudes interiores de uma planta: a chave binária, a chave quaternária (dos elementos, o zodiacal) e a chave septenária ou planetária.
CHAVE BINÁRIA. - Eis aqui, segundo Saint-Martin, a teoria acompanhada de dois exemplos de aplicação prática (Esprit des choses, volume I):
"Em cada coisa, seja material ou imaterial, há uma força impulsiva que é o princípio donde esta coisa recebe sua existência."
"Mas esta força impulsiva universal que observamos na Natureza não existiria, se uma força compreensiva em oposição não a dominasse também, para aumentara intensidade; é ela que, impelindo-a, opera ao mesmo tempo o desenvolvimento e a aparência de todas as propriedades e de todas as formas geradas pelo ímpeto da força impulsiva."
"A vegetação, principalmente, nos oferece bem distintamente estas duas leis em todas as suas diversas espécies e categorias. No caroço de uma fruta, a resistência predomina sobre a força; vemos como permanece na mais completa inação; quando o caroço foi semeado e se restabeleceu a vegetação, esta se realiza porque a força luta com a resistência até estabelecer um equilíbrio com ela. Quando o fruto aparece, é porque a força pôde mais do que a resistência e conseguiu vencer todos os obstáculos; todavia, este fruto se nos oferece apenas como união de uma força e uma resistência, em sua composição, em suas propriedades substanciais e em sua capa exterior que as contém, unifica, conserva e corrobora, segundo essa lei universal das coisas."
"Diante deste quadro, é-nos possível observar quantas feridas tem sofrido a Natureza primitiva e eterna, que sempre reconhecemos como a verdadeira herança da humanidade" - SAINT-MARTIN.
"O objetivo da vegetação — prossegue dito autor na mesma obra — consiste em transmitir-nos os detalhes da beleza, de cor e de perfeição que nascem nas regiões superiores e que tendem a introduzir-se em nossa região inferior."
"Cada grão de semente é um pequeno caos."
"Na Natureza, tudo se compõe de uma ação divisora: a força de uma ação divisível: a resistência."
"Quando a segunda se vê privada da primeira, pro-duz-se a água; quanto ambas operam, produz-se fogo."
"Ao mesmo tempo que a união do fogo e da água se manifesta pela cor verde das folhas, a putrefação se localiza nas raízes e a sublimação, nas cores vivas das flores e dos frutos."
"Os grãos constituem a prisão das potências superiores e traçam com certa analogia a história da queda e o mito de Saturno devorando seus filhos."
"Assim sendo, podemos dizer que a geração é um combate, cujas fases se mostram pelo signo, e que não existe um único ser que não manifeste, por sua forma exterior, a história do seu próprio
nascimento."
"A amêndoa do roble, por exemplo, de sabor azedo e acre, encerrada em sua bolota, indica que essa árvore teve que passar por um violentíssimo esforço por parte da resistência, esforço que seguramente visava aniquilá-la.
"Se, à semelhança deste exemplo, passamos a considerar agora a folha da videira, a pevide da uva e as propriedades do vinho, logo descobriremos que a água foi extremamente concentrada pela resistência na pevide, o que constitui causa de seu desenvolvimento tão abundante nos sarmentos."
"Que, com esta expansão da água, a folha da videira indica, por sua forma, que o motivo de ser tão abundante é porque esteve separada de seu fogo e que seus fatores são binários, conforme acontece com uma infinidade de plantas de outras classes."
"Que, por conseguinte, o fogo tem estado, também, muito separado da água, o que demonstram os galhos da cepa, onde as folhas e o pedúnculo do racemo se alternam conjuntamente, mas sempre pelo lado oposto."
"Que, segundo sua lei, este fogo sempre se eleva a uma altura maior do que a água, o que se conhece pelo pedúnculo do racemo, que sempre sobe muito mais do que sua folha correspondente."
"Que, do mesmo modo, este fogo se encontra muito perto da vida primitiva tanto que se pode dizer que são uma mesma coisa, o que leva o bago de uva a assumir uma forma esférica tão regular, que parece ter sido inflado por seus estames e seu pistilo, o círculo completo das virtuali-dades astrais, cujo número abrange toda a circunferência e estabelece o equilíbrio entre a resistência e a força."
"Que por esta razão o bago de uva é tão são e proveitoso para o corpo, quando é comido com moderação/'
"Que, apesar disto, por causa da fonte bifurcada ou binária da qual deriva, chega a produzir as mais graves perturbações, quando se abusa de seu sumo ou se come dele com excesso."
"Que, no que se refere a estes excessos, tem-se observado que são de um gênero muito particular: 19 — Chegam amiúde a provocar disputas e até a fazer perder a razão, sendo causa de lutas e de crimes. 29 — Chega também à luxúria, que é determinada em várias formas pela pevide correspondente. 39 — A embriaguez que produz, pela excitação da luxúria, apesar disto é, de tudo isso, mais favorável do que funesta à procriação."
CLASSIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS. - É sabido que um dos quatro elementos, além da quintessência, correspondem a cada um de nossos cinco sentidos; isto é, cada uma dessas cinco formas de movimento nos revela as qualidades dos objetos por meio da vibração de um de nossos centros nervosos ou sensitivos:
A Terra corresponde ao olfato (cheiro).
Água corresponde ao gosto (sabor). O Fogo corresponde à vista (forma). O Ar corresponde ao tato (volume). A Quintessência corresponde ao ouvido (espírito). Daí a origem de composição do quadro distributivo adiante:





QUADRO I



Perfume das
Flores

Sabor dos
Frutos

Cor Plantas ou
Flores

Forma Plantas
ou Flores

Volume Plantas
ou Flores

Plantas de Terra
Suave
Açucarado
Amarela
Ondulada
Pequeno
Plantas de Água
Nenhum
Ácido
Esverdeada
Trepadeira
Caule pequeno
Frutos grandes
Plantas do Fogo
Penetrante
Picante
Encarnada
Retorcida
Médio
Plantas de Ar
   Desagradável
Azedo
Azulada
Delgada
Muito alto

Este quadro abrange somente os tipos simples, que são pura e exclusivamente teóricos; na realidade, é preciso combinar uns com os outros, estes quatro elementos, para se obter o quadro número dois dos signos zodiacais, o qual poderá indicar-nos o caráter geral de uma planta.

                                                                                 QUADRO II




Fogo
Terra
AR
Água
Água
Fogo
2 Touro
3Gêmeos
4 Câncer

Terra
1 Áries
Terra
7 Libra
8 Escorpião

Ar
5 Leão
6 Virgem
Ar
Peixes
Fogo
9 Sagitário
10Capricórnio
11 Aquário
Água




Beijos e até a próxima, que vocês sejam abençoados! :)
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